Um troféu e uma reflexãoDepoimento da cineasta premiada Bia Oliveira:

Um ano de aprendizado e com a resiliência lá no alto.

Um ano de estudo e novas investidas.

Um ano de conquistas de novos amigos e novos encontros.

Um ano de expedição para novos voos.

Um ano de mergulho num universo desconhecido mas muito importante na minha vida.

Um ano de reconhecimento e entre eles, chega aqui, no Brasil, vindo do Irã, um troféu, um prêmio.

Para tudo.

Como assim?

Chega do Irã, um prêmio “Women Director” sim, “Windows to the World – AM to PM” meu filme, isso soa como ironia, acende a reflexão, e claro, um susto mas ainda prefiro acreditar que é um sinal do universo.

No momento de tantas transformações femininas pra cá, e lá, mulheres iranianas vivendo em condições primitivas e absurdas. Veio aquela imagem que viralizou das mulheres cortando seus cabelos, veio o grito da palavra engolida pela opressão, e veio também, a mistura real da alegria pela nossa Arte, pelo nosso filme ter ido tão longe e ecoar.  A palavra venceu, o cinema feito por mulheres criou asas e se fez arauto no território árido do imperialismo masculino.

Rodamos o mundo recebendo prêmios e chegamos ao Irã. Um país aonde a mulher vive em condições subordinadas e seus desejos são ocultos e proibidos, isso tudo me assusta.

E ainda a imagem do prêmio mexeu comigo, uma mulher com um machado na mão direita e um prego na mão esquerda em posição de movimento, uma Deusa dourada, uma mulher guerreira, uma figura mitológica e mística que me fez ver Iansã, a orixá guerreira, deusa dos ventos e tempestades.

E então, nossa equipe de mulheres, guerreiras, em pleno 2020, vivendo o auge do caos, o silêncio social, o medo, sozinhas pelo mundo, fazendo cinema a distância, contando rotinas solitárias embaladas pelos versos de Clarice fez bonito no oriente.

Esse prêmio como “women director” marca nossa união enquanto movimento pelo BWIE, um grupo de mulheres brasileiras pelo mundo, fazendo Arte, marca a importância do Cinema feito por mulheres num cenário tão masculino, marca que não existe limite para a dramaturgia contar, através do cinema, suas histórias com alma e verdade, marca a força da mulher cineasta e reafirma que a Arte salva.

Obrigada a Deus por estarmos vivas, obrigada a minha família que me acolheu nesse ano de 2020, obrigada a todos que vivenciaram esse processo conosco e que me fortaleceram nessa jornada linda que é fazer cinema.

E ao “2nd First Women Film Festival” no Irã, minha eterna gratidão pois abrimos as janelas pelo mundo e fomos fazer ninho no oriente hostil com o nosso filme que fala de mulheres sozinhas pelo mundo com todos os seus anseios pela vida.

Somos mulheres pelo mundo fazendo Arte e como um sinal do universo recebo e aceito.

Está feito.

Bia Oliveira

30/12/2022